Páginas

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A RESERVA ECOLÓGICA DO TAIM, SANTA VITÓRIA DO PALMAR E OS NOSSOS AZUIS.


Cisne de pescoço negro na Reserva do Taim

Agradeço aos vitorienses que se conectaram comigo através da Internet, pelo que escrevi no jornal O Vitoriense. Houveram comunicações de vitorienses que residem em Santa Vitória e de vitorienses que estão fora, mas que, pelo jeito, não deixam, como eu, de ler as coisas da terra.
Foi ótimo. Recebi fotos maravilhosas do Taim, de uma conterrânea, e as redistribui por aí, inclusive para a Espanha, onde tenho mais de um amigo conectado via rede.
As fotos fizeram sucesso e quiseram saber mais da nossa terra. Uma das fotos, de um cisne de cabeça negra, inseri como fundo de tela em meu computador pessoal e não canso de observar a profundidade do azul do banhado do Taim.
Eu penso que esse tom de azul decorre de uma junção de todos os azuis que colorem Santa Vitória; o azul da lagoa Mirim, diferente do azul da lagoa Mangueira; o azul mais cambiante do mar, os vários tons de azul desse céu especialíssimo de trezentos e sessenta graus, uma abóbada completa, sem restrições nas quatro direções cardeais; a sutileza de outros tantos azuis, como aquele azul especial de algumas curvas e barrancas do Arroio Chui (e do arroio São Miguel!); o das sangas e canais das lavouras, dos arrozais; aqueles matizes quase negros das antigas cacimbas ancestrais. São tantos os azuis de Santa Vitória do Palmar!
E eu penso que eles se combinaram para um “fechamento” reservado e misterioso, nesse lugar que a humanidade, num ato de oração a Deus, ou quem sabe apenas a Gaia, preservou para abrigar quase trezentas espécies das aves de todo o planeta, mais outros tantos animais que viverão na pureza da natureza divina, intocada, salvando as nossas vidas, a vida de Gaia, trazendo-nos de novo a esperança de uma futura Terra limpa deste acumulo de detritos e lixo de toda a espécie que já ninguém está tolerando mais.
A nossa reserva não é só uma simples reserva é um santuário da humanidade toda, a exemplo de alguns outros que cada vez mais aprendemos a reverenciar. É um resgate da Mãe Terra, é uma retomada energética e saudável de Gaia, é um sorriso, um suspiro de Deus!? E como já sabemos que o acaso não existe e fazemos parte de uma rede quântica de conexões inteligentes, Santa Vitória foi “escolhida” para ser uma das guardiãs.
Mas nós vitorienses sabemos que existe mais outro tesouro que guardamos, incrustado em nossos corações, que talvez tenha a ver com o ter sido gestado “dentro” desses azuis e mais os campos e os matos e as várzeas e os banhados e os mananciais e as barrancas, os areais, um desenho maravilhosamente finalizado e emoldurado por um vento forte, cortante, bravio, que pincelou essa nossa marca que carrega a beleza selvagem do impacto veloz, estonteante, certeiro, determinado e feroz do mergulho do biguá, o mergulhão!
Reserva o Taim - Santa Vitória do Palmar RS


terça-feira, 2 de novembro de 2010

Farol do Chuí



  Farol do Chuí

        (poesia de Danielle Garcia)
Lá no alto
Á beira das casas
Ilumina o mar bravio
No fim da barra
No fim do Brasil.
Uma tocha de luz

Para guiar os pássaros
Para achar os náufragos
Que perderam o rumo,
Não acharam mais o prumo
Estão na solidão.
Na beira do penhasco
A história fez um trato
E o último sentinela

Mantém a velha chama
Da união entre os gauchos
De todos os lados
De todas as línguas
Das velhas manias.
Em seu concreto
Guarda o novo e o velho
Guarda as lembranças

Da tua criança
Que ainda teima em viver.

Farol da Barra do Chuí - Fronteira Brasil-Uruguai


terça-feira, 21 de setembro de 2010

PALAVRAS QUE SE CRUZAM, SEMPRE INCOMPLETAS


Doença-dor, futuro-medo, perdido-passado, fogo-poder, profundo-buraco, violão-milonga, amargo-mate, adocicada-esperança, corpo-poeira, perversa-mente, cruzadas palavras brincam no meu agora feliz e triste, luminoso e sombrio, doce e amargo, entrando na via crucis dos caminhos que os ancestrais já trilharam e me vem o Cristo no pensamento e a sua imagem na cruz e suas palavras derradeiras – Pai, porque me abandonaste?

A solidão humana, quase canina em sua inocente esperança. Entendo os ateus. Eu poderia ser um deles, mas preferi meu lado canino, olhando sempre pro dono, com ternura infinita, mesmo que apanhando.

Sou cusco manso – agora, ressabiado da vida, dos abandonos, dos desamores, das injustiças e dos ventos gelados das intempéries.

Meu agora é com com desalento. Tenho tudo, mas nada mais me pertence, pois sinto a miséria humana que carrega milhares de vidas de arrasto, os agregados microscópicos, tudo destinado a putrefação. Sim, falo com as minhas células, as bactérias boas e até as bandidas (eco dependentes), mas perdi o poder de convencimento. Penso que elas estão estressadas e depressivas – coitadas. Mas como mentir-lhes? Dizer-lhes que não estão fadadas ao grande buraco? Consolo-as o suficiente, falando em física quântica e novas conexões, mas não vencem a tristeza.

Escrevo para você não perder a esperança de me alegrar, pois entendo também Jesus quando dizia que fora das crianças não há salvação. Não há salvação. A alegria adulta geralmente é adulterada, ou melhor, turbinada com álcool, barbitúricos, compras compulsivas e etceteras.

Quando começo a me queixar, não consigo parar.



Praia do Santinho, Ilha de Santa Catarina, 21 de Setembro de 2010

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Ânsias de vida e de morte

Sem dúvida há um desejo de morte,
só não morro porque
surpreendentemente
também há um desejo de vida.

Já estive incomodado com a vida,
mas nunca assim,
tão incomodo num corpo

Veiculo falho, máquina que apodrece!
"Bom pro fogo"!

Os caras das moradas etéreas
projetam mal ou bem, estas máquinas de expressão na matéria?

Pior que não dá pra desatrelar assim no mais...

Então olho para o fogo - horas a fio!

O fogo! Um dos corpos de Deus!
Uma das bocas de Deus?
Como os Indus, dou ao fogo o alimento que mais amo:
pão.

Na minha solidão só há uma compartilha que me cura:
o fogo.

Só o fogo aquece minha alma gelada.

Acho que fui brindado com esta solidão
para honrar o fogo, descobrir o fogo,
o Deus primitivo.

No fogo das velas - o romance.
No fogo da cremação - não sei.
Nos fogos que faço e farei amanhã,
a esperança na iluminação de algumas células idiotas
de um corpo que caminha inexoravelmente para o abismo.
Pura ignorância.

Se depender de mim: a imortalidade.

domingo, 5 de setembro de 2010

UMA PAUSA (NA VIDA) PARA UM REGISTRO IMPORTANTE

-->
Tenho agora em minhas mãos uma obra ímpar, Uma Luz no meu Caminho, de Alix Pedro Soares, edição do autor com apoio cultura da Prefeitura de sua cidade natal, Governador Celso Ramos – nada mais justo.
O livro é belíssimo, com seu conteúdo de histórias, algumas delas já conhecidas por mim, pela palavra segura e afável do autor ou de um dos seus filhos.
Conheci o Seu Alix através do seu filho Sidnei da Costa Soares, a quem elegi para ser “o meu melhor amigo”. Em muitas ocasiões ele vem demonstrando que faz jus ao título – e olha que sou crítico, chato e exigente!
Seu Alix e sua suave esposa Dona Ivanira, foram para mim um suporte familiar, desde que cheguei à Ilha de Santa Catarina, em 1979. Com essa família tenho convivido bastante e muito recebi e aprendo. Não sou “mui dador”, mas penso que também contribui com algumas coisas positivas nessa rica roda familiar, como ter aberto um caminho para que dois dos netos deles se tornassem excelentes faixas-pretas de Aikido – mérito maior, evidentemente do Leandro e do Vitor.
Vi o livro do Seu Alix ir tomando forma desde o seu manuscrito original, depois ir se materializando até obter toques importantíssimos como o do escritor Manoel Mendes e o neto Bruno. Vejo que ele (o livro) é a essência do próprio jeito especial do autor, de misturar humildade com determinação, coisa que, juntamente com sua esposa, brilhantemente desenharam nos seus descendentes. Junte-se a isso a pitada do tempero de coragem de um dos heróis de Monte Castelo.
Sou de uma família bem diferente desses amigos dos Ganchos. Minha tradição foi o campo aberto. A maioria “dos meus” são veterinários, agrônomos, fazendeiros ou funcionários. Esta última categoria nos uniu, a mim e ao Sid, em uma Secretaria de Estado de Santa Catarina.
Hoje meus filhos e netos estão cada vez mais próximos do mar e da pesca – tradição desses Soares. Quem sabe lá se os netos ou bisnetos deles não venham a criar gado ou ovelhas lá pelas bandas da fronteira gaúcha, fechando-se assim mais um circuito neste mundo arredondado.
Um dia ouvi do Seu Alix o quanto o espiritismo foi importante na vida dele e de sua família. Nota-se isso pela força da sua escrita, daquele que fez-se auto-didata praticando e estudando a vasta literatura kardecista, ajudando-o certamente ao grande salto quântico – do terceiro ano primário a um merecido diploma de doutor na faculdade da vida.
O nosso atual Presidente Luiz Inácio Lula da Silva é também um desses saltadores quânticos. A coragem do Seu Alix peitou até o grande Presidente Getúlio Vargas – e venceu, naquilo que buscava – como bem comenta o escritor Manoel Mendes na introdução ao livro: “ninguém disse para o Alix que não dava para fazer, ele foi lá e fez.”
Nos noventa anos do Seu Alix o Sid me “encaixou” na grande festa, a mim e a minha esposa Helena Maria. Nesse dia eu estava me sentindo muito doente, mas coloquei paletó e gravata e fui lá homenagear a um homem exemplar. Sacudi a poeira e até dancei, mesmo que com passos trôpegos, parecidos com os do Seu Alix chegando depois de muitas décadas à Ilha do Arvoredo. Seus passos agora já devem estar mais firmes, como os meus também.
Vou ter que finalizar, mas sem vontade. Dizer o quanto eles foram e são importantes para mim, que saí do Rio Grande do Sul numa certa “fuga geográfica” de problemas e dificuldades várias, inclusive de falta de emprego. Os problemas e as dificuldades volta e meia me assaltam novamente, como é da vida, mas aqui gostei de fincar minhas raízes, pois me facilitaram muito pessoas como os Soares lá dos Ganchos.

Florianópolis, Ilha de Santa Catarina,
27/08/2010




sábado, 4 de setembro de 2010

DISCURSO DE HERÓI - Ou, quando o meu irmão caçula honrou o nome de toda a nossa família.

      Discurso do Paraninfo, Professor Paulo Ricardo Centeno
Rodrigues, proferido durante a Formatura do Curso de Medicina
Veterinária da ULBRA/Canoas em 14/08/2010.

        Autoridades Acadêmicas, Autoridades Religiosas, Professores,
Funcionários, Formandos, Senhoras e Senhores:
        Emoções, muitas emoções serão sentidas nesta noite, será uma noite
inesquecível para muitos de nós, dá minha parte só tenho agradecimentos aos
formandos, esses meninos e meninas, que hoje partem para uma nova caminhada, agora
como profissionais da Medicina Veterinária, levando consigo um pouco do legado de
cada um de nós, professores e funcionários, que contribuíram para que esse dia
chegasse. Mas antes de nós, e junto conosco, os pais ou responsáveis, tiveram, tem e
terão, também, uma participação ativa e fundamental nessa construção.
        A minha emoção é ainda maior, por que nesta turma maravilhosa está se
formando o meu sobrinho Pedro, filho da minha querida irmã, Professora Norma, que
criou o Curso de Medicina Veterinária da ULBRA, o Curso de Agronomia, a Área das
Ciências Agrárias e tantas outras ações que elevaram o nome ULBRA no cenário
Estadual e Nacional. E a nossa família, se orgulha muito disso.
        No início deste ano, infelizmente, fui demitido da Universidade, junto com mais
de 200 professores, sendo que outros tantos funcionários e professores já haviam
seguido, também, o mesmo caminho. Uma enorme crise financeira, fruto de muitos
desmandos e irregularidades, cobrava o seu preço. Mas a ULBRA e o Curso de
Medicina Veterinária continuam e se renovam através de novas lideranças formadas
dentro da própria Instituição.
        A vida é movimento, é ação, quase sempre é traumático sair de uma posição de
conforto, de segurança, e encarar o desconhecido, a incerteza, mas nesses momentos de
crise, se agirmos com sabedoria e tivermos a visão clara, longe de mágoas e rancores,
sairemos fortalecidos e confiantes. É assim que me eu sinto, confiante. A nossa
Universidade –a ULBRA- vai superar esse momento e voltará a crescer e ocupar o
espaço que lhe é destinada no cenário nacional. Para isso a CELSP – Comunidade
Evangélica Luterana São Paulo – mantenedora da ULBRA, deverá permanecer atuante,
orando e vigiando, pois não há mais espaço para omissões.
        Eu cheguei aqui em 1995, para ser professor de Farmacologia Veterinária à
convite da Professora Norma, e posso dizer que foi muito difícil, eu era um Veterinário
dando aulas, até transformar-me em professor transcorreu muito tempo. Só quando eu
compreendi que o trabalho do professor se assemelha ao trabalho de um jardineiro, é
que eu passei a sentir-me um professor. No início eu queria que todas as flores
desabrochassem ao mesmo tempo, que o meu canteiro estivesse sempre florido, afinal
eu havia preparado a terra, adubado, semeado, regado. Como podiam haver arbustos,
ervas daninhas, plantas tóxicas, a minha vontade era arrancá-las e limpar a sala de aulas.
        Passou o tempo, dei aulas na Parasitologia Clínica Veterinária, na Terapêutica
Veterinária, na Medicina de Ovinos e Caprinos, na Cirurgia Veterinária I, na
Anestesiologia Veterinária, mais os Projetos de Extensão: Castração de Cães e Gatos e
Bovinos de Leite, o trabalho no Bloco Cirúrgico do Hospital Veterinário, nesse tempo
eu só chegava em casa para dormir. Hoje eu me dou conta disso. Aí eu comecei a
compreender que assim como o jardineiro, o professor tem que ter muita paciência, e
amar o seu jardim, que cada planta desse canteiro tem seu momento de beleza, algumas
logo mostram suas flores coloridas, outras são sazonais, algumas tem espinhos, cada
qual com seu aroma particular, existem arbustos, folhas amareladas, plantas rasteiras,
mas cada qual contribuindo para dar vida ao jardim. Quando passei a amá-las como são
e não como eu gostaria que fossem eu me tornei um Professor. E hoje quando encontro
algum ex-aluno, e sou chamado de Professor ou Prof. Paulo eu me sinto agradecido a
Deus, por ter me dado essa oportunidade que tanto me ajudou a crescer espiritualmente.
       Em nome dos Professores e funcionários do Curso de Medicina Veterinária da
ULBRA, que participaram dessa caminhada com vocês, queridos formandos, desejo-
lhes muito sucesso profissional, e que vocês tenham muita perseverança e fé, e que com
ética e esforço, conquistem o seu lugar nessa profissão tão nobre que é a Medicina
Veterinária.
       Muito Obrigado e que Deus os abençoe!
Obs: inspirado no texto “Jardineiro e seu Jardim”, de autor desconhecido.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

De bêbados e defuntos

Isto me contava um grande camarada, recentemente desencarnado, rememorando suas épocas de serestas e boemia no Oeste Catarinense, e alguns porres homéricos - era a perdição dele, e de seu grupo de amigos.

Que um belo dia recebeu a notícia de que um amigo de noitadas e de copo tinha morrido e precisavam ir ao velório, já em andamento na Igreja do bairro tal, meio no subúrbio de Joaçaba. Na verdade o amigo morto era um Zé Ninguém, no sentido de não ter um puto vintém, mas era um companheiro e tanto, e sempre fazia, de uma forma ou de outra, a alegria do grupo de boêmios.

O frio era de lascar na madrugada do Oeste Catarinense. Chegando por lá encontrou uns poucos colegas do Bar costumeiro, não mais que uns quatro ou cinco. Parentes, ou amigos do morto: nenhum, e o padre, apreensivo, com muito frio e meio descontente, pois seus serviços, estava a ver, pagamento que é bom não teria.

Na pobreza do velório nem um biscoito, quanto mais um trago. Enquanto isso, esfregavam as mãos e fumavam em ritmo de um atrás do outro, pra ver se esquentavam.

Passado da meia noite o padre não aguenta mais e vem com uma conversa de que pelo resfriado e coisa e tal, ía dormir um pouco, mas pedia o comprometimento do grupo de zelar pelo morto e pelo local. No mais tardar lá pelas seis da manhã ele já estaria chegando, para a missa das sete, as encomendas, e depois, pronto, era só enterrar o Alfredo e missão cumprimda

A turma, evidentemente, embora não dissesse nada, olharam de viés, aliás completamente atravessado e deram um bom resmungo, ou seria grunhido, em uníssono.

Agora a sós - logo começaram a beber. Já tinham iniciado as escondidas do padre a algum tempo. Uma vez cada um iam ao bar da esquina e traziam o trago de copo em copo, pois garrafa, certamente não ficava bem no velório.

Lá pelas tantas, e no frio que teimava após a uma da matina, um dá a idéia: ao invés de ficar nesse leva e traz de copo, vamos todos pro Bar e depois a gente volta e segue com o baile. "Mas deixar o Alfredo sozinho!” “ Isso não é direito, e vai até dar castigo..." Enfim...

Discussão pra lá e pra cá, Uma idéia genial veio a baila e foi votada e aceita por unanimidade. Levariam o Alfredo, com caixão e tudo (era só tampar) com eles pro bar - não mais que meia quadra! E antes do padre voltar a gente retorna, coloca tudo no lugar e o padre nem vai notar.

E foi feito! E deu certo!! Os caras podiam ser bêbados, mas sei lá se em respeito ao morto, a disciplina falou mais alto. Quinze pras seis o cenário tinha sido perfeitamente remontado. O padre não notou nada - talvez um sorriso estranho nos lábios do morto, que lhe pareccia não ter percebido antes.

terça-feira, 1 de junho de 2010

UMA CRÔNICA SOBRE A DOR


Passam-se os dias e as horas, e como diria o Raul Seixas: e eu aqui dando milho aos pombos. Bem, não é tanto assim. Fazendo um balanço honesto, até que não estou me saindo tão mal assim com a vida, considerando que já “dobrei o Cabo da Boa Esperança” - já estou novamente pagando meia entrada no cinema, mas não mais por estudante, e sim por idoso! Dá uma certa vergonha, que tem a ver unicamente com os condicionamentos doentios ou hipócritas da sociedade de consumo, nada conosco, os idosos.
Mas e a dor? A dor humana, a dor do mundo, a nossa dor? Uma médica, ontem, me disse que a dor maior é aquela que alguém está sentindo no momento. Nada pior do que essa dor, seja física ou psíquica, ou espiritual. Volta e meia estamos as voltas com esse duro professor. E quando a dor é grave, aguda, terrível, vai ficando meio eterna, e nos desesperamos porque começamos a temer que ela possa nunca mais ir embora. Filosoficamente eu entendo bem o papel da dor, como forma de crescimento e evolução espiritual; o difícil é entender-me enquanto vivencio a dor – mais claramente: perdoar-me por ter sido tão negligente, ou errado, ou obtuso e estúpido por deixar que as coisas chegassem a esse ponto, de maltratar-me assim com tanta e tamanha dor.
Não sei se é porque ultimamente tenho sentido tanta dor, observo muito mais a dor dos outros. Gente, quanta calamidade! Quanto sofrimento. Hoje mesmo as Tvs nos mostram a dupla calamidade, no norte e no sul – desabamentos lá, com soterramento de pessoas e mortes, e pontes que desabam aqui – mais mortes. Se somarmos a isso as calamidades do trânsito brasileiro com a violência que campa – sem entrarmos em detalhes desnecessários – então podemos dizer: é o caos! É muita dor!
Já não dá mais para dizer que é a TV só focando no negativo. É o caos mesmo que bate a nossa porta. E estamos conversados. Tudo estava bem previsto, bem vaticinado, não há novidades para os que são leitores de obras mediúnicas, que pesquisaram na área espírita ou espiritualista. Tudo bem previsto. Tudo bem avisado. Mesmo assim a gente fica pasmo.
Eu já estou somando (ou somatizando) essa dor do mundo com as minhas dores particulares, que são, pelo menos em mim, que as sito, as piores de todas. E aí o tal milagre. Pois mesmo assim eu agradeço. Agradeço pois tudo isso anda me sacudindo suficientemente a ponto de me fazer mudar, mudar para melhor, claro. Deixar de ser tão egoísta, tão orgulhoso e voltar-me um pouco mais para a dor dos outros. Essa é uma nova descoberta para mim. E aí vem-me outra dor, a de pensar que precisei chegar a condição de maturidade para abrir um pouco mais o mão-fechada com tudo que sempre fui.
Enfim, parece que não vai ter mais jeito. A dor agora veio para ficar, permanecer definitivamente comigo. Irá me acompanhar até o derradeiro momento neste mais que transitório corpitcho de carne – futura comida de vermes. Algo assim como essa malfadada prima que chamamos de morte, companheira inevitável dos nossos mais profundos pensares, e que por não ter jeito, acabamos por nos acostumar com ela, mantendo-a numa espécie de prateleira-esquecimento. Pois então, estou construindo mais uma dessas prateleiras, a da dor-esquecimento. Os esotéricos diriam simplesmente que são as prateleiras de transcendências. O milagre de transformar dor em luz, morte em vida e renascimento, sem fantasias ou simples elucubrações literárias, um dia sabe-se que é coisa pra valer, como um ferro em brasa, desses de marcar o gado, que vem e imprime na carne e na alma.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Praia do Rosa


Posted by Picasa

ENFERMEIROS DO PLANETA

“O amor deve ser livre de sentimento de espera de qualquer retorno ou recompensa. O amor que brota do sentimento de um desejo de retribuição não é o verdadeiro amor.” Sathya Sai Baba

Honestamente sou primata nessa visão divina, posto que verdadeira, sobre a nossa maneira de amar. Pensei, de forma pedante, em escrever “somos primatas”, mas num ataque de humildade optei por falar por mim apenas. Há milagres – Madre Tereza, Gandhi, etc... - para não citar os Avatares – Rama, Krishna, Jesus, Sai Baba... - Vá que alguém que possa ler estas malfadadas linhas ame assim, divinamente, sem apego, por verdadeiro amor ao próximo.

O mundo (exterior) está um caos – a cidade de São Paulo, hoje, madrugou com um apagão e literalmente inundada. Sinais dos tempos. Os soldados, bombeiros e ONGs brasileiras, no Haiti, manifestam na matéria o que os espíritos há muitas décadas já vaticinavam, como no livro BRASIL, CORAÇÃO DO MUNDO, PÁTRIA DO EVANGELHO – de Humberto de Campos (espírito) e psicografado por Chico Xavier – que o nosso país seria o enfermeiro do mundo, durante o terceiro milênio. Bem, já está acontecendo. Hoje mesmo o clamor lá no Haiti é por salvacionistas brasileiros, e pedem que os magnatas-soldados norte americanos (cheios de armamentos pesados, como se fossem invadir, ao invés de salvar) deem lugar aos brasileiros, que tem mais “jeito”.

Será que aqui na terra brasilis temos aprendido um pouco mais do amor-desprendimento? Acho que sim e a fusão das raças sem dúvida é uma das responsáveis. O brasileiro é um povo totalmente mestiço (leia-se O POVO BRASILEIRO) do saudoso Darcy Ribeiro. Até o nosso “preconceito” é diferente do preconceito dos outros – quero dizer, principalmente dos brancos europeus e seus descendentes norte-americanos. Misturar é preciso. Quem teria uma neta incrível como eu tenho, loirinha com olhos e cara de japonesa – nem vou falar na misturança da formação étnica na minha família, que é a mais brasileira das misturas – total! Eu tenho o maior orgulho disso e pena dos ignorantes que são cegos para esse diferencial que está a nos colocar, entre outras coisas, como “enfermeiros” do Planeta.

O Major brasileiro que deu uma entrevista hoje para o Jornal Nacional, representando os que chegavam do pós-terremoto no Haiti tem a cara do Brasil mulato. Nos enche de orgulho. Tem a pele morena e é forte como um índio e um negro e uma honestidade no falar e no olhar, sem meias palavras, sem aquele jeito espúrio dos políticos atuais, que são a nossa vergonha nacional.

E as conversas na nossa família, mesmo com respeito a todo esse caos, nos trazem como retorno a vontade de mais de um neto ser bombeiro, ou polícia ambiental. Isso é deveras auspicioso.