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terça-feira, 21 de setembro de 2010

PALAVRAS QUE SE CRUZAM, SEMPRE INCOMPLETAS


Doença-dor, futuro-medo, perdido-passado, fogo-poder, profundo-buraco, violão-milonga, amargo-mate, adocicada-esperança, corpo-poeira, perversa-mente, cruzadas palavras brincam no meu agora feliz e triste, luminoso e sombrio, doce e amargo, entrando na via crucis dos caminhos que os ancestrais já trilharam e me vem o Cristo no pensamento e a sua imagem na cruz e suas palavras derradeiras – Pai, porque me abandonaste?

A solidão humana, quase canina em sua inocente esperança. Entendo os ateus. Eu poderia ser um deles, mas preferi meu lado canino, olhando sempre pro dono, com ternura infinita, mesmo que apanhando.

Sou cusco manso – agora, ressabiado da vida, dos abandonos, dos desamores, das injustiças e dos ventos gelados das intempéries.

Meu agora é com com desalento. Tenho tudo, mas nada mais me pertence, pois sinto a miséria humana que carrega milhares de vidas de arrasto, os agregados microscópicos, tudo destinado a putrefação. Sim, falo com as minhas células, as bactérias boas e até as bandidas (eco dependentes), mas perdi o poder de convencimento. Penso que elas estão estressadas e depressivas – coitadas. Mas como mentir-lhes? Dizer-lhes que não estão fadadas ao grande buraco? Consolo-as o suficiente, falando em física quântica e novas conexões, mas não vencem a tristeza.

Escrevo para você não perder a esperança de me alegrar, pois entendo também Jesus quando dizia que fora das crianças não há salvação. Não há salvação. A alegria adulta geralmente é adulterada, ou melhor, turbinada com álcool, barbitúricos, compras compulsivas e etceteras.

Quando começo a me queixar, não consigo parar.



Praia do Santinho, Ilha de Santa Catarina, 21 de Setembro de 2010

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Ânsias de vida e de morte

Sem dúvida há um desejo de morte,
só não morro porque
surpreendentemente
também há um desejo de vida.

Já estive incomodado com a vida,
mas nunca assim,
tão incomodo num corpo

Veiculo falho, máquina que apodrece!
"Bom pro fogo"!

Os caras das moradas etéreas
projetam mal ou bem, estas máquinas de expressão na matéria?

Pior que não dá pra desatrelar assim no mais...

Então olho para o fogo - horas a fio!

O fogo! Um dos corpos de Deus!
Uma das bocas de Deus?
Como os Indus, dou ao fogo o alimento que mais amo:
pão.

Na minha solidão só há uma compartilha que me cura:
o fogo.

Só o fogo aquece minha alma gelada.

Acho que fui brindado com esta solidão
para honrar o fogo, descobrir o fogo,
o Deus primitivo.

No fogo das velas - o romance.
No fogo da cremação - não sei.
Nos fogos que faço e farei amanhã,
a esperança na iluminação de algumas células idiotas
de um corpo que caminha inexoravelmente para o abismo.
Pura ignorância.

Se depender de mim: a imortalidade.

domingo, 5 de setembro de 2010

UMA PAUSA (NA VIDA) PARA UM REGISTRO IMPORTANTE

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Tenho agora em minhas mãos uma obra ímpar, Uma Luz no meu Caminho, de Alix Pedro Soares, edição do autor com apoio cultura da Prefeitura de sua cidade natal, Governador Celso Ramos – nada mais justo.
O livro é belíssimo, com seu conteúdo de histórias, algumas delas já conhecidas por mim, pela palavra segura e afável do autor ou de um dos seus filhos.
Conheci o Seu Alix através do seu filho Sidnei da Costa Soares, a quem elegi para ser “o meu melhor amigo”. Em muitas ocasiões ele vem demonstrando que faz jus ao título – e olha que sou crítico, chato e exigente!
Seu Alix e sua suave esposa Dona Ivanira, foram para mim um suporte familiar, desde que cheguei à Ilha de Santa Catarina, em 1979. Com essa família tenho convivido bastante e muito recebi e aprendo. Não sou “mui dador”, mas penso que também contribui com algumas coisas positivas nessa rica roda familiar, como ter aberto um caminho para que dois dos netos deles se tornassem excelentes faixas-pretas de Aikido – mérito maior, evidentemente do Leandro e do Vitor.
Vi o livro do Seu Alix ir tomando forma desde o seu manuscrito original, depois ir se materializando até obter toques importantíssimos como o do escritor Manoel Mendes e o neto Bruno. Vejo que ele (o livro) é a essência do próprio jeito especial do autor, de misturar humildade com determinação, coisa que, juntamente com sua esposa, brilhantemente desenharam nos seus descendentes. Junte-se a isso a pitada do tempero de coragem de um dos heróis de Monte Castelo.
Sou de uma família bem diferente desses amigos dos Ganchos. Minha tradição foi o campo aberto. A maioria “dos meus” são veterinários, agrônomos, fazendeiros ou funcionários. Esta última categoria nos uniu, a mim e ao Sid, em uma Secretaria de Estado de Santa Catarina.
Hoje meus filhos e netos estão cada vez mais próximos do mar e da pesca – tradição desses Soares. Quem sabe lá se os netos ou bisnetos deles não venham a criar gado ou ovelhas lá pelas bandas da fronteira gaúcha, fechando-se assim mais um circuito neste mundo arredondado.
Um dia ouvi do Seu Alix o quanto o espiritismo foi importante na vida dele e de sua família. Nota-se isso pela força da sua escrita, daquele que fez-se auto-didata praticando e estudando a vasta literatura kardecista, ajudando-o certamente ao grande salto quântico – do terceiro ano primário a um merecido diploma de doutor na faculdade da vida.
O nosso atual Presidente Luiz Inácio Lula da Silva é também um desses saltadores quânticos. A coragem do Seu Alix peitou até o grande Presidente Getúlio Vargas – e venceu, naquilo que buscava – como bem comenta o escritor Manoel Mendes na introdução ao livro: “ninguém disse para o Alix que não dava para fazer, ele foi lá e fez.”
Nos noventa anos do Seu Alix o Sid me “encaixou” na grande festa, a mim e a minha esposa Helena Maria. Nesse dia eu estava me sentindo muito doente, mas coloquei paletó e gravata e fui lá homenagear a um homem exemplar. Sacudi a poeira e até dancei, mesmo que com passos trôpegos, parecidos com os do Seu Alix chegando depois de muitas décadas à Ilha do Arvoredo. Seus passos agora já devem estar mais firmes, como os meus também.
Vou ter que finalizar, mas sem vontade. Dizer o quanto eles foram e são importantes para mim, que saí do Rio Grande do Sul numa certa “fuga geográfica” de problemas e dificuldades várias, inclusive de falta de emprego. Os problemas e as dificuldades volta e meia me assaltam novamente, como é da vida, mas aqui gostei de fincar minhas raízes, pois me facilitaram muito pessoas como os Soares lá dos Ganchos.

Florianópolis, Ilha de Santa Catarina,
27/08/2010




sábado, 4 de setembro de 2010

DISCURSO DE HERÓI - Ou, quando o meu irmão caçula honrou o nome de toda a nossa família.

      Discurso do Paraninfo, Professor Paulo Ricardo Centeno
Rodrigues, proferido durante a Formatura do Curso de Medicina
Veterinária da ULBRA/Canoas em 14/08/2010.

        Autoridades Acadêmicas, Autoridades Religiosas, Professores,
Funcionários, Formandos, Senhoras e Senhores:
        Emoções, muitas emoções serão sentidas nesta noite, será uma noite
inesquecível para muitos de nós, dá minha parte só tenho agradecimentos aos
formandos, esses meninos e meninas, que hoje partem para uma nova caminhada, agora
como profissionais da Medicina Veterinária, levando consigo um pouco do legado de
cada um de nós, professores e funcionários, que contribuíram para que esse dia
chegasse. Mas antes de nós, e junto conosco, os pais ou responsáveis, tiveram, tem e
terão, também, uma participação ativa e fundamental nessa construção.
        A minha emoção é ainda maior, por que nesta turma maravilhosa está se
formando o meu sobrinho Pedro, filho da minha querida irmã, Professora Norma, que
criou o Curso de Medicina Veterinária da ULBRA, o Curso de Agronomia, a Área das
Ciências Agrárias e tantas outras ações que elevaram o nome ULBRA no cenário
Estadual e Nacional. E a nossa família, se orgulha muito disso.
        No início deste ano, infelizmente, fui demitido da Universidade, junto com mais
de 200 professores, sendo que outros tantos funcionários e professores já haviam
seguido, também, o mesmo caminho. Uma enorme crise financeira, fruto de muitos
desmandos e irregularidades, cobrava o seu preço. Mas a ULBRA e o Curso de
Medicina Veterinária continuam e se renovam através de novas lideranças formadas
dentro da própria Instituição.
        A vida é movimento, é ação, quase sempre é traumático sair de uma posição de
conforto, de segurança, e encarar o desconhecido, a incerteza, mas nesses momentos de
crise, se agirmos com sabedoria e tivermos a visão clara, longe de mágoas e rancores,
sairemos fortalecidos e confiantes. É assim que me eu sinto, confiante. A nossa
Universidade –a ULBRA- vai superar esse momento e voltará a crescer e ocupar o
espaço que lhe é destinada no cenário nacional. Para isso a CELSP – Comunidade
Evangélica Luterana São Paulo – mantenedora da ULBRA, deverá permanecer atuante,
orando e vigiando, pois não há mais espaço para omissões.
        Eu cheguei aqui em 1995, para ser professor de Farmacologia Veterinária à
convite da Professora Norma, e posso dizer que foi muito difícil, eu era um Veterinário
dando aulas, até transformar-me em professor transcorreu muito tempo. Só quando eu
compreendi que o trabalho do professor se assemelha ao trabalho de um jardineiro, é
que eu passei a sentir-me um professor. No início eu queria que todas as flores
desabrochassem ao mesmo tempo, que o meu canteiro estivesse sempre florido, afinal
eu havia preparado a terra, adubado, semeado, regado. Como podiam haver arbustos,
ervas daninhas, plantas tóxicas, a minha vontade era arrancá-las e limpar a sala de aulas.
        Passou o tempo, dei aulas na Parasitologia Clínica Veterinária, na Terapêutica
Veterinária, na Medicina de Ovinos e Caprinos, na Cirurgia Veterinária I, na
Anestesiologia Veterinária, mais os Projetos de Extensão: Castração de Cães e Gatos e
Bovinos de Leite, o trabalho no Bloco Cirúrgico do Hospital Veterinário, nesse tempo
eu só chegava em casa para dormir. Hoje eu me dou conta disso. Aí eu comecei a
compreender que assim como o jardineiro, o professor tem que ter muita paciência, e
amar o seu jardim, que cada planta desse canteiro tem seu momento de beleza, algumas
logo mostram suas flores coloridas, outras são sazonais, algumas tem espinhos, cada
qual com seu aroma particular, existem arbustos, folhas amareladas, plantas rasteiras,
mas cada qual contribuindo para dar vida ao jardim. Quando passei a amá-las como são
e não como eu gostaria que fossem eu me tornei um Professor. E hoje quando encontro
algum ex-aluno, e sou chamado de Professor ou Prof. Paulo eu me sinto agradecido a
Deus, por ter me dado essa oportunidade que tanto me ajudou a crescer espiritualmente.
       Em nome dos Professores e funcionários do Curso de Medicina Veterinária da
ULBRA, que participaram dessa caminhada com vocês, queridos formandos, desejo-
lhes muito sucesso profissional, e que vocês tenham muita perseverança e fé, e que com
ética e esforço, conquistem o seu lugar nessa profissão tão nobre que é a Medicina
Veterinária.
       Muito Obrigado e que Deus os abençoe!
Obs: inspirado no texto “Jardineiro e seu Jardim”, de autor desconhecido.