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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

QUEM É TÃO IMUTÁVEL NO TEMPO


Quem é tão imutável no tempo, tão reto, tão coerente, tão sempre o mesmo, a ponto de se achar com direitos e cobrar dos outros, de pessoas quaisquer que sejam, posturas, respostas, verdades, fidelidades, corretas atitudes? Veja-se você mesmo, como num espelho, que, aliás, está cientificamente impossibilitado de refletir exatitudes, num bom e verdadeiro exame de consciência, sobre as suas coerências. As visíveis, aquelas que todos podem ver, no real diário, ou em fotografias do Faceboock, ou vídeos, sim, essas são as mais fáceis por terem registros palpáveis; o que estou querendo dizer é que se quiséssemos aprofundar suas “coerências de credencial”, ao nível da sua bandida mente, seu escorregadio pensamento, aí sim você estaria por demais encrencada, algo assim como se estivesse você sob o julgamento de um Tribunal de sua Própria Consciência – lembrando de saudoso personagem do gordo Jô soares, naquele antigo tempo em que ele era maravilhoso – pois cumpria a risca com a sua obrigação de fazer-nos rir.
Isso porque o egoísmo, se deixarmos, nos invade e possui, modificando-nos, descaracterizando-nos de sermos pessoas, gente, pois gente tem que ser bondosa, paciente, agradável, humana em gestos, atitudes e atos. Num determinado instante da vida a gente para, analisa, reflete e depara-se com tais impasses, tais despropósitos, interrogativas; fica-se a cogitar se agora pegamos a caneta pra registrar ou apenas vamos fazer um mate. Um mate – chimarrão – é algo meditativo, ou melhor, um instrumento que nos incita a pensarmos mais fundamente – pensar no sentido de cura (pensar uma ferida).
A sabedoria necessariamente tem que ser poética. E a poética é um outro mundo. Um mundo paralelo. Mas você, que julga e cobra tanto, tem os pés fincados numa “realidade” concreta (você diz), mas impermanente, totalmente ilusória, e nega-se sempre a transpor o muro que faz saltar-nos para dentro desse mundo paralelo da sábia poética. Embora esteja eu a escrever, creio que tal mundo aqui declarado como existente, tem a ver mesmo é com a oralidade (tempo que se perdeu, no Brasil) do que da escrita histórica impressa em livros e documentos.
Alguns filmes – principalmente os filmes do mundo dos Curtas, se aproximam um pouco do que estou querendo dizer, com essa oralidade perdida. Mas aí, você teria que parar de ver só o telejornal oficial da mídia comandada pelas pesquisas de opinião, sair das novelas e ver os canais de cultura, de uns que escapam do olho do Grande Irmão, esse que padroniza tudo e nos faz consumidores em harmonia com o Grande Predador.
Sou um escritor meio fora do contexto do lucro, seja por menor talento, ou por falta de pendores de adequações sistêmicas, vingo-me escrevendo blogs. Inúmeros blogs. E vou mandando por aí nesse virtual mundo afora.
Acho que muitos que escrevem devem ser como eu, que definem um público de antemão: ou és tu, sim, tu mesmo, uma específica pessoa que pensei, ou pessoas como os meus amigos de juventude, por exemplo, embora sabendo que a maioria já estão mortos. Mas tem aquela pessoa público que gostavas tanto e sabes que está viva, então pronto, estás público, e fico feliz, escrevendo assim, pensando se lerás isto antes que morras. Tomara que sim. E terão aquelas outras pessoas que vão pensar que escrevi para elas, mas se enganaram, pois foi mesmo para ti.


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