Quem é tão imutável no tempo, tão reto, tão coerente, tão
sempre o mesmo, a ponto de se achar com direitos e cobrar dos outros, de
pessoas quaisquer que sejam, posturas, respostas, verdades, fidelidades,
corretas atitudes? Veja-se você mesmo, como num espelho, que, aliás, está
cientificamente impossibilitado de refletir exatitudes, num bom e verdadeiro
exame de consciência, sobre as suas coerências. As visíveis, aquelas que todos
podem ver, no real diário, ou em fotografias do Faceboock, ou vídeos, sim,
essas são as mais fáceis por terem registros palpáveis; o que estou querendo
dizer é que se quiséssemos aprofundar suas “coerências de credencial”, ao nível
da sua bandida mente, seu escorregadio pensamento, aí sim você estaria por
demais encrencada, algo assim como se estivesse você sob o julgamento de um
Tribunal de sua Própria Consciência – lembrando de saudoso personagem do gordo
Jô soares, naquele antigo tempo em que ele era maravilhoso – pois cumpria a
risca com a sua obrigação de fazer-nos rir.
Isso porque o egoísmo, se deixarmos, nos invade e possui,
modificando-nos, descaracterizando-nos de sermos pessoas, gente, pois gente tem
que ser bondosa, paciente, agradável, humana em gestos, atitudes e atos. Num
determinado instante da vida a gente para, analisa, reflete e depara-se com tais
impasses, tais despropósitos, interrogativas; fica-se a cogitar se agora
pegamos a caneta pra registrar ou apenas vamos fazer um mate. Um mate –
chimarrão – é algo meditativo, ou melhor, um instrumento que nos incita a
pensarmos mais fundamente – pensar no sentido de cura (pensar uma ferida).
A sabedoria necessariamente tem que ser poética. E a poética
é um outro mundo. Um mundo paralelo. Mas você, que julga e cobra tanto, tem os
pés fincados numa “realidade” concreta (você diz), mas impermanente, totalmente
ilusória, e nega-se sempre a transpor o muro que faz saltar-nos para dentro
desse mundo paralelo da sábia poética. Embora esteja eu a escrever, creio que
tal mundo aqui declarado como existente, tem a ver mesmo é com a oralidade
(tempo que se perdeu, no Brasil) do que da escrita histórica impressa em livros
e documentos.
Alguns filmes – principalmente os filmes do mundo dos Curtas, se aproximam um pouco do que
estou querendo dizer, com essa oralidade perdida. Mas aí, você teria que parar
de ver só o telejornal oficial da mídia comandada pelas pesquisas de opinião,
sair das novelas e ver os canais de cultura, de uns que escapam do olho do Grande
Irmão, esse que padroniza tudo e nos faz consumidores em harmonia com o Grande
Predador.
Sou um escritor meio fora do contexto do lucro, seja por
menor talento, ou por falta de pendores de adequações sistêmicas, vingo-me
escrevendo blogs. Inúmeros blogs. E vou mandando por aí nesse
virtual mundo afora.
Acho que muitos que escrevem devem ser como eu, que definem
um público de antemão: ou és tu, sim, tu mesmo, uma específica pessoa que
pensei, ou pessoas como os meus amigos de juventude, por exemplo, embora
sabendo que a maioria já estão mortos. Mas tem aquela pessoa público que
gostavas tanto e sabes que está viva, então pronto, estás público, e fico
feliz, escrevendo assim, pensando se lerás isto antes que morras. Tomara que
sim. E terão aquelas outras pessoas que vão pensar que escrevi para elas, mas
se enganaram, pois foi mesmo para ti.
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