A mão trêmula abre a porta. O coração disparado
caminha para outro coração que claudica.
Ele caminha para ela, na beira da lareira do sítio vazio, no momento em
que o sol se escondia relutante, ainda iluminando teimosamente o ambiente
rural-moderno. Os passos lentos sobre o tapete de couro-de-boi espalhado no
chão da sala aconchegante, nem uma palavra, só o silêncio que permitia ouvir os
movimentos do organismo humano trabalhando, o barulho do sangue circulando,
quase doendo, espalhando-se em cada pedaço dos corpos e das entranhas, tão
próximos, já, um do outro, o hálito, sentindo-se a cada inspiração, quando as
mãos se tocaram! Quentes! Santas! Os braços estendidos, soltos para baixo, as
palmas voltadas uma para a outra, um
abraço de mãos, de dedos, de hálitos, de cheiros, de sentir o cheiro do nariz e
da boca um do outro, na sala que perdia claridade.
O primeiro relâmpago somente foi percebido de
soslaio, pelo canto dos olhos de cada um e o cheiro denunciou a chuva de pingos
grossos que começava. Os relâmpagos intermitentes aumentando a cada cinco
segundos mostravam um quadro irreal! Os joelhos foram se dobrando a medida em
que a vontade de chorar transbordou ao mesmo tempo da face de cada um dos dois amantes, de joelhos, mãos grudadas,
quentíssimas, mãos de velhos, amor de moços, represado.
O temporal desabou e a água, torrencial, subiu no
tapete da sala. Rachou o telhado! E um estrondo impressionante, como se a
estrutura da casa inteira fosse ruir, aconteceu.
Havia, verdadeiramente, quase uma impossibilidade
física deles desgrudarem os joelhos do chão. Os músculos, as articulações, não
obedeciam, e as bocas, e a respiração, entraram num compasso tão perfeito, uma
sintonia em que o ar entrava no outro no segundo certo, para sair noutro
segundo certo, diretamente dentro do outro, uma fusão natural. Parecia que só
faltava o soldador terminar o serviço, e foi por isso que o raio não
surpreendeu, quando amalgamou, para sempre, os dois corpos numa só estrutura
empretecida, depois da faisca e do estrondo imenso, ensurdecedor, no campo,
quando as vacas pararam de mugir para se unirem ao silêncio cósmico do Criador.
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