Para Carmelina e Álvaro
Só comigo em uma noite brisa de verão, estrelas no céu e o
cruzeiro do sul no topo da minha cabeça, na cadeira do terraço, chá verde
substituindo uma vontade persistente dos velhos cigarros, ou charutos, não é
mais hora de mate; antes na moto rodei até a beira da praia, claro, pois como
os antigos cigarros, ou charutos, ou a cerveja, era preciso trazer a Barra do
Chuí pras minhas saudades de só, apenas porque é noite, quando me vem o cheiro
dos cedros da “escadinha”, por isso
inda agorinha podei, assim num sem ter o que fazer, os verdes do nosso percolado
novo, que agora tem mesa de pedra com banquinhos, presente da amada; mas é
noite, tem até a rede no terraço, podia pegar o violão, podia dedilhar as
minhas mesmices de sempre, velhas desde as noites da Barra, vivíssima “en mis adentros”, sou sobrevivente, como
alguns poucos daquela geração perdida. Perdida em sete-e-meios, em pif´s,
nas rulas uruguaias, em patas-de-cavalo, em tangos madrugada a
dentro, em bebedeiras irresponsáveis duma infância perigosa e interminável, não
se tinha vontade de mais nada além de Santa Vitória, a campanha, as nortenhas
do Chuí, a Boate do Zeca, os bailes da Barra Uruguaia, as gurias da imensidão
que ia das fortalezas até o Rio Grande, no máximo! Até que não sei que milongas
o mundo de fora apareceu, assim do nada, com o arroz e a estrada, os DKV Candangos
e uma gente diferente, estrangeira, uns que chiavam diferente até dos
pelotenses, que já era algo assim por demais de se aceitar e tinham palavras
novas e tudo se foi indo de repente, os currais arrombados, o mais grave: as
gurias acharam novos heróis e gostaram e então porque não partir também, as
cidades enormes, por mais enormes que fossem, e eram, e são, jamais tiveram a
poesia da Barra antes das invasões bárbaras, tudo ficou misturado, ganhos e
perdas e no frigir dos ovos fiquei com esse saber-compromisso dessa brisa única
que agora está só aqui no meu peito. Mas tem uns ainda que entendem, lá a moda
de cada um, que são reminiscentes daqueles currais dentro do grande, do curral
maior das lagoas e do mar, até a fronteira, limite. Tinha aquela passagem do
Taim, bem, passagem mesmo não tinha, mas sempre dava pra desviar, conforme o
tempo, pela costa da lagoa; pela costa do mar, é claro, mas o perigo sempre rondava
se a maré subisse até os cômoros. O mar, pelo menos, é o mesmo. Aqui em Santa
Catarina, quem é pescador sabe sempre do que falo, dos bancos de areia daquele
mar brabo, sem curvas, e o grande farol vermelho, o último do território
brasileiro. Eu escrevo bobagens, pois poucos que ainda existem, uns que saíram
e voltaram, outros que nunca saíram e eu que fiquei por longe, mas mesmo longe,
nesse brete dos currais que não tem
porteira, parece.